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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Horizonte

Naquela madrugada finalmente despertei de todos os invernos consequentes dos dias mal dormidos. Não me entreguei as ilusões dos tenebrosos amores insensatos, que me perseguiram fora dos meus sonhos quando decidi seguir vivendo. E sigo meus caminhos, sigo fora do meu mundo, caindo da muralha, bombardeando as nuvens tempestuosas que trazem os pesadelos inacabados que se expandem a cada olhar que se perde quando não encontra a esperança de um novo dia.

E, naquela manhã chuvosa, foi quando vi a luz entre as nuvens. Segui um instinto natural que queria apenas levantar e entrar na chuva. Não sei onde vi as pessoas estenderem as mãos, mas deixei pra depois, já sabia onde estava. Vivo partes de pesadelos dentro de sonhos inconscientes, quase embriagados, esperando serem tocados pela magia de um doce veneno que pudesse congelar aquele instante para sempre. Onde as luzes brilham ao relento, carregam o imaginário, despertam a realidade, buscando os relâmpagos que os despertariam para outros mundos, além de onde poderiam acordar.

E aquela tentativa de ir além, apaguei os rastros de onde passei, deixei as portas abertas nos quartos escuros, e, ainda assim era possível ouvir as lágrimas que tocam o ar sobre o teto coberto de um passado que nunca aconteceu... num mundo tão distante quanto todos os pensamentos um dia prometeram que eu chegaria. Lugares que só pude ver quando fechei os olhos e não mais abri. Naquele momento que enfim encontrei a paz, começando uma nova caminhada.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

As Setas do Labirinto

Ele sonhou com aquela calorosa noite de inverno.
Lembrou dos dias nublados, as garrafas no chão.
Lembrou da campainha, esqueceu o telefone.
Deixou ferver a água até o vapor tocar as estrelas.
Viu o sol se esconder atrás das nuvens, contou as pedras no chão.
Sentiu pavor da amarga contradição metafórica que não encontrou.
Sentiu a alegria transbordar com a lembrança recuperada.
Viu na sua mente, um sorriso.
Na varanda, ouviu a rua sussurrar, por entre os muros.
Na varanda, ouviu o estalar das folhas caindo na parede da sala.
Viu a lembrança que se perdeu.

Ele acordou numa fia manhã de verão...
Esqueceu o sol, deixou as marcas da caminhada no teto...
Esqueceu o silêncio  dos trovões, deixou a água transbordar dos sapatos...
Estendeu as mãos ao chão, olhou para cima...
Viu a imagem embaçada de uma memória que não consegue recuperar...
Viu a calçada de bronze sumir com a chuva de mármore...
Buscou o mais longinquo dia, viu o sorriso...
Da janela, viu as árvores derrubando as pedras...
Da janela, viu os gigantes prédios pedirem abrigo para as casas...
O sorriso era o que se lembrava...

Vai estar além das cruzadas desse labirinto mental;
Vai estar diante das frias chamas do inverno;
Esquecerá as pedras de areia que conquistou, derrubando todo o ouro da estante;
Esquecerá das marés, deixará os flocos de neve na lareira;
Sentado no quintal, não verá os meteoros cruzando os céus dentro da cozinha;
Sentado no quintal, deixará se levar pelo riso;
Pela lembrança de um sorriso... a melhor lembrança que guardou do dia que perdeu...

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Distantes


Afinal, o quão longe eles poderiam chegar? Perguntavam isso o tempo todo, mas nunca em voz alta. Tinham dúvidas de quem realmente se tornaram. Estranhos perfeitos, perdidos no horizonte. Eles acreditaram que podiam ir além, que poderiam brilhar, que as estrelhas eram apenas faíscas ofuscando momentaneamente a escuridão. Era onde queriam ir. Além do que poderiam esperar de seus destinos. Eles cairam várias vezes. Eles brigaram várias vezes. O mundo é seu palco. Tudo desmoronava quando eles caminhavam, o tempo parava quando corriam, o caos parecia perseguir suas escolhas. Toda tragédia é consequencia de uma escolha que deu errado em algum momento.

Nunca mudam. As idéas seguem planos diferentes, opostos, mas em algum momento, um único erro e tudo desmorona, quando as paredesdo oasis começam a ruir, o oceano desperta suas lágrimas ao sol, que despeja sua escuridão despojada para eles e o ciclo começa novamente. Eles pairam quando pensam de verdade o quão longe poderiam mesmo chegar. Perfeitos estranhosnum paraíso de uma ilusão que não os levou a lugar nenhum. Eles acreditam que tudo está vindo contra eles, mas permaneceram lado a lado, só para dar mais uns passos e então descobrir o quão longe poderiam chegar. Os castelos sempre abrem os portões na mesma hora.

Quando a lua se despede das luzes ao redor, seu coração extravasa o impeto do amago amargurado, é quando eles decidem que está na hora. É hora de ver o quão longe podem chegar... a partir daqui, só falta mesmo, saberem quem são, não sabem nada um do outro, mas estiveram juntos até aqui, numa jornada que até então não sabiam se estavam juntos ou competindo, mas não importava, parecia estar no fim, parecia que eram mesmo estranhos presentes um para o outro. Rodeados do vazio, cercados de almas que não os levaram tão longe quanto queriam, mas sem nem ao menos saber quem são, eles se vão. Como já deveria ter sido, é o mais longe que poderiam ter ido. até aqui.

Indo Embora

Eles se levantaram. Foram embora, tudo o que restou foi a poeira dourada, reluzente nas trevas do pensamento perdido das catastrofes mentais, segue isolado das demais ondas cerebrais. Sentiam-se inúteis, uma perda do inverno sob a luz do outono. Abandonados a ponto de serem apagados de todas as memórias. Deixados ao fundo, escondidos de suas próprias lembranças. Assim seguiram por entre as frestas dos cadernos caídos, ainda sem marcas de lápis. Dias como hoje já não fazem mais parte daquilo que os trouxe até ali.


Muros foram erguidos, prédios foram derrubados. As árvores tomaram posse de tudo. As notas mentais foram esquecidas, e, tudo o que ele ainda resistia em querer, desistiu. Momentos de raiva o assombraram por dias. Dias de tormenta, dias de uma confusão complascente. E ainda assim, ele insistia seguir adiante, andando de costas, só para não ver o futuro que tanto teme. Deixou a coragem entre as moitas secas dos quadros quebrados. Deixou um lembrete em cima do teto de feno queimado, incendiado pela lembrança do mais frio verão que enfrentou.

Deixou-se levar pela insensatez de um pensamento que abandonou no bosque eletrônico. Caixas abriam microchips dentro do caule das flores. Não retornaram da longa avenida de mão única onde perderam os óculos do deserto. Deixaram aqui a coragem que um dia pensaram conquistar, mas não quiseram. Seguiram adiante, além, pararam por um instante, não sairam do lugar, não vão a lugar nenhum. Cegos pelas trevas do sol, deixaram-se irradiar pelos raios das sombras, temiam  não ver mais quem se tornaram, ou pelo menos quem queriam ser realmente. E ali ficaram. Pensando em como poderia ter sido diferente "se", mas os quase não são uma realidade.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Just Another Day In...

Eu entrei em um labirinto que por ironia do destino, vejo que todos os caminhos levam apenas pra trás. E sei que não é o lado pelo qual devo seguir, já deixei caos demais por onde passei e jamais vi a ordem que tanto me disseram. Não me interesso pelo que passou. Não sei onde vou. São poucas as luzes. Mas talvez eu esteja atrás é das sombras e da solidão.

Não vejo além dos meus punhos o que o destino nunca quis que eu pudesse descobrir. Mas depois de tanto ignorar isso, acho que ele desistiu de mim. Assim como eu dele. O destino e eu nunca nos demos muito bem mesmo. Mas afinal, quem disse que não era isso que eu queria? Poder ser livre até mesmo do caminho que um dia pensaram que eu seguiria.

Deixo aqui as marcas e cicatrizes dos dias que deixei para trás. Ainda carrego na mochila os dias que não quero nunca me esquecer. E para sempre na memória, aquele sorriso me tirou das minhas próprias trevas e me jogou para o alto, dizendo apenas para viver por mim mesmo. Deixar de pensar no que poderia estar perdendo e o que realmente estava conquistando. Simples assim.

Não são pelas escolhas que fiz, ou as que subjuguei. Mas sim a nova rota que criei a cada passo que dei sem ter a menor idéia de onde estava indo, ou porque estava indo. Não preciso mais de motivos, só quero saber que estou aqui. Livre arbítrio?? Talvez, livre escolha, novos rumos, talvez sem antigos princípios. Até onde posso chegar se joguei o mapa do acaso no cesto de recicláveis? Vou chegar tão longe que viverei um sonho de quem se perdeu e não tem interesse de saber onde está, ou onde vai acabar.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Inverno Presente

Deixei me levar pela imaginação até os longinquos moinhos de vento, passei pelas estranhas estátuas da Ilha de Páscoa, vi desertos soterrados tornarem-se florestas tropicais. Vi aquele velho trem percorrer um caminho longo sem trilhos, deixei de plantar os cata-ventos nas memórias do futuro. Vi aquela pilha de livros ironicamente deixados sob a sombras das árvores, esperando que um dia sejam novamente abertos em suas páginas não marcadas.

Quando a noite chegou as pilhas do controle remoto pifaram. Não podia mais fazer nada. Não queria mesmo fazer. Ir além, ir adiante, olhar os lados... por quê? Onde quer que esteja, onde que possa chegar, não vai me satisfazer por completo, mas o que pode completar essa satisfação? O que pode ser ir além? Quero apenas lembrar que posso ser esquecido e deixado de lado, talvez seja um pedido complexo numa sociedade que se preocupa em viver a vida alheia, mas é simples, não é nada demais.

Talvez algum dia lembre de colocar o lixo pra fora na hora certa, talvez com um pouco de sorte até me levante mais cedo sem razão nenhuma e siga todos os caminhos que já ignorei, deixando de lado as escolhas que um dia fiz, pensando apenas em não ser igual, mas segui por um lado inconstante e controverso que foge a minha própria realidade mostrando que toda a indiferença que cultivei não me levou tão distante daquilo que sempre evitei. Talvez por isso, não lembramos sempre do que acontece.




* agradecimentos à Nathalia que me deu esse final do texto. Obrigado!!!

sábado, 7 de abril de 2012

A Imensidão Refaz a Saudade

Hoje contemplo toda a insensatez que deixei debaixo dos carpetes pregados no teto da imaginação vespertina de uma criança. Deixo pra depois a nostalgia que ainda não veio daquele dia que nunca aconteceu. Queria me lembrar do dia de ontem. Não me lembro o que fiz até chegar aqui, ou por onde passei até desmaiar ali.

Aqueles trovões vespertinos inspiraram trovadores e seus cantos. Os galhos que derrubam as folhas cantam sua música enquanto a neve tece seus dilemas sobre o triunfar dos raios de sol atravessando as janelas entre-abertas abandonadas no vilarejo do perdão. Entre os muros da derrota, esconde-se a desilusão inscrita no pergaminho há muito perdido daqueles que um dia deixaram-se levar por seus próprios desastres. Os temores correm por entre as frestas deixando seu rastro para serem encontrados pelos predadores. Eis que a linha temporal escorre pelos ralos no meio da parede deixando a sanidade monumental que fora desprezada.

O som daquele silêncio ensurdecedor que há pouco ouvi me fez voltar alguns passos adiante e olhar para o lado oposto de onde nunca estive enquanto caminhava. As pedras que caíram no céu seguiram adiante, fluindo pela imaginação do arco-íris que voltava do seu encontro com o sol sob a luz do luar. Ainda vejo as páginas marcadas do livro que deixei sobre os arbustos do parque naquele outono sob a escrivaninha de metal envelhecido por passar tanto tempo correndo em um futuro que não há memória.

Distúrbios comoventes ainda circulam pela cozinha do quintal daquele pintassilgo que um dia conheci quando me deixei levar pelo minuano até o espaço, quando perdi o folego ao me levantar em cima da lona daquele circo que nos deixou cair cachoeira abaixo quando a chuva parou e o gelo deixou de se esconder para encontrar por meros segundos, aquele paradoxo incontestavel que o levou para baixo das flores secas de verão.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Caleidoscopio sem Cores

Eu acordei de uma metáfora, correndo entre as mimeses que ficariam para trás. Vi aquele enxame de ditongos perecer diante da violência infindável das proparoxitonas que deixaram-se enganar por seu rei. Perderam seu castelo vogais, e eu, eu vi isso tudo. Na minha frente. Não sei se eu poderia fazer algo, ou se queria fazer, mas não fiz nada. Ante a indiferença artesanal daquele sarcasmo perdido, que se ergue ao encontro da ironia desprezível de um destino que se frustrou entre as paredes bélicas de uma metonímia.

Eu acreditei cegamente num olhar platônico que nunca pôde cumprir suas promessas dos natais passados. A areia escaldante presa na ampulheta que percorreu o mesmo caminho derrubou a antítese paralela de uma figura numa meta linguagem que nunca existiu. Os versos e as prosas se separam pelas retas, evitam todos os cálculos filosóficos, tentam redescobrir a química que perderam, mas eu não posso ajudar mais, já deixei para trás todos os logarítimos de uma vida dentro dos recipientes isotônicos naquela caverna de ilusões.

Não sei por onde vou. Ou onde posso encontrar a prudência amorosa de um hiato subindo cada vez mais alto em uma vertigem alucinante, que se perde no coração da prudencia ao bater de frente com a retórica daquele pleonasmo de silício. Nada mais será como as pessoas se lembram. Mas como ficará a minha mente no meio disso tudo? Uma complexa cacofonia dentro das paredes de cromo de uma elipse de zinco.

Agora sei onde deixei aquele paradoxo ambíguo. Tudo que é, vai deixar para trás. Como um escândio construído a partir de uma onomatopéia... vai ficar pelo caminho... ahh agora a ironia sorri feliz ao lado do sarcasmo...

quarta-feira, 21 de março de 2012

O Moinho que Espalha os Sonhos

Eu não lembro quando foi a última vez em que disse boa noite.
Parece tão simples, tão banal, mas pode ser uma coisa muito boa. Não só para quem ouve. Boa noite aos estranhos que ainda não conheço. Aos estranhos que já conheci. Boa noite mesmo para quem deixou de ser estranho. E mesmo aos que hoje tornaram-se estranhos.

Talvez eu deva dizer boa noite a mim mesmo e ir embora. Não sei até onde eu fui, se passei algum limite, se invadi algum território. Mas tudo parece tão embaralhado que todas as noites, mesmo sendo as mesmas ainda ficam mais confusas. O que eu perdi nesses dias? O que deixei de falar? Queria poder ver o que passou antes mesmo que eu fechasse os olhos.

Quem sabe isso tudo não seja apenas uma ilusão que criei para me proteger de algo que ainda não aconteceu. Não sei dizer por que essa noite é tão estranha e toda essa calmaria incomum me incomoda. Quem sabe seja apenas a hora de dar boa noite e esquecer o que não me lembro. Acho que errei em tentar me lembrar de tanta coisa que já não faz mais sentido algum. Se é que já fez.

Ainda me lembro daqueles moinhos de vento carregando ao longe e espelhando os pensamentos utópicos perdidos a léo. Como se não fossem nada, como se nunca tivessem pertencido a alguém. E nenhum desses pensamentos pára no tempo, eles seguem adiante, perdidos. Sonhos que deram adeus às pessoas, que um dia disseram boa noite antes de partirem. Todos partem um dia. Todos deixam algo para trás. Existem sacrifícios, existem sacrilégios, sempre existirá o perdão. Sempre há quem seja um narrador. E agora é hora de dizer boa noite apenas... até a volta...

segunda-feira, 12 de março de 2012

Invadindo o Infinito

Já fiz parte daquela multidão que segue sem rumo. Já entrei em tantos lugares que é difícil reconhecer quando mudam as cores das entradas. Mas eu caí. Não vi além dos passos que me guiaram. Me perdi consciente de que precisava fugir. Não era mais parte de mim, ou parte de você. E segui adiante pelas ruas escuras e desertas, as mãos frias dentro do bolso da calça larga de barra rasgada por ser maior que a perna. Aquele chão sujo e úmido daquela rua me fez andar ainda mais depressa, querendo estar fora de lá. Queria estar em qualquer lugar menos ali, mas foi inevitável. Agora resta a companhia das luzes piscando, quase queimando.

Mas eu disse a mim mesmo que seguiria em frente e deixaria isso pra trás, mas antes de sair, preciso me lembrar que nunca consegui voltar e eu nunca vou desistir. E eu preciso seguir sozinho, pelo menos por enquanto. Preciso dar adeus a mim mesmo e pegar carona nesse minuano que anuncia sua chegada por aqui. Quem sabe confrontando uma luta que não seja minha, eu me lembre porque precisei ir embora.


Deixei tudo o que eu tinha guardado até que um dia eu volte, mas seria injusto te pedir que me esperasse. Então prefiro que tudo se perca para eu ter uma razão para voltar. Não sei dizer nada mais, mas vou redesenhar meu destino com as cores que perdi naquela tarde de outono que senti frio. Escrevi nomes e os guardei no bolso, para tentar lembrar se um dia eu encontrar este lugar de novo. Quero reescrever as páginas que deixei espaços.

Toda aquela dor está quase sumindo. Acho que aguentei tempo demais. Esperei algo que nunca ia acontecer, não porque não queria, mas porque não lutei contra. Mas eu sempre fiquei aqui. Sempre continuei a andar onde você pudesse me encontrar, mas nunca fui de novo aos lugares onde eu poderia te encontrar. Talvez eu apenas tenha evitado, sempre soube que não posso aprender com aquilo que nunca vi. Então só preciso de um momento, mais um, onde possa sentir que as coisas ao meu redor são reais, não tenho mais medo da dor, não temo a derrota. Mas esse tempo todo tão longe de te ver, vi que não fui eu quem mudou, apenas me afastei para sentir a ironia de estar distante daquilo que sempre quis. Mas talvez seja tarde demais. As imagens parecem tão distorcidas que mal consigo me recordar de como éramos de verdade. Mas quando você me procurar, ainda vou estar nos mesmos lugares, mesmo que não seja ao mesmo tempo que você me procure.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Sobre Perdas do Ego

Eu vi um nome sem face, ou talvez uma face sem nome.
Eu lembro da ilusão se perdendo no meio da multidão. Eu não vi mais nada que valesse a pena lembrar, ou que pelo menos faça valer o esforço da lembrança. Perdi a medalha, ganhei o jogo. Perdi o momento, esqueci da promessa que um dia fiz ao destino. Lembrei de tanta coisa, que nem lembro de mais motivos pra esquecer. Vai estar lá ao longe, ainda que não queira ir, ainda que já esteja partindo.

Ainda lembro que um dia vi uma sombra desfigurar-se entre as luzes da alvorada. Num mar de areia escaldante. Nenhum pensamento escapava da imensa névoa de tédio que ali se instalou. O tempo parece que não passa quando decido cair, posso rever tudo o que se foi e o que nunca quis. Mas ao me levantar, tudo é tão rápido que nem ao menos percebo que já estou de volta. Nem ao menos pude me despedir de velhos pensamentos e estranhas manias.

Não sei te dizer quando foi. Se foram aqueles vários rostos que passaram.
Aqueles poucos que ficaram. Todos ainda tem suas dúvidas. Parecia tudo tão simples. Era tão pouco complicado. Mas o que era para permanecer se foi. Acabaram as ilusões. E eu... sentei-me para ver o sol nascer de novo. Ainda acredito. Não sei em que, mas sei que talvez valha a pena. Por que não?

Eu vi um pesadelo deixar um rosto feliz. Vi um sonho abandonar um rosto triste.
Eu não sei porque. Só queria ver o que foi deixado de lado. Eu não consigo ver porque tem que ir. Eu só queria... mas talvez não seja este o caminho. Eu...

domingo, 29 de janeiro de 2012

Caminhos Tortos

Um dia disseram que a ansiedade tem sabor de surpresa, mesmo sem saber onde, mas apenas um estalar de dedos e as nuvens dissipam. Como seria sentir o mundo parar por um segundo? E aqueles que souberem a verdade, ditam que suas certezas conduzem o mundo. Mas nada disso parece ter uma lógica ou um fim. Quem sabe se definitivamente seja realmente desse jeito, até que a poeira cubra tudo que perdemos, aquilo que antes estava a frente perde a certeza de que tudo era mesmo diferente daquilo que se vê agora.
O ciclo é continuo, um antigo vício da natureza que se corrói no meio das estrelas que surgem a cada segundo. Luzes ainda são ofuscadas no céu e as perguntas que já se tem a resposta, perdem-se num sonho. Encontram o dia que nunca foi perdido dentro da alternativa, num estalo. E um mero segundo é suficiente pra se ver tudo que passou até agora. Lembrando daquela esperança que o levou onde ficou confuso, apenas por deixar que ficasse. E nada que deixou pra trás chegará até aqui.

E a aquela voz era tão calma e fria, chegou lentamente e parecia que congelava o orgulho embaçando a mente. Ainda olha algo que não sabe explicar. O que realmente mudou? Se é que mudou, e o mundo ainda sempre surpreende, mas não quer ver o que não foi visto antes. Mas pode descobrir um algoz capaz de derrubar todas as surpresas deixadas pelo caminho, já pareciam tão certas que já não enxergava, mas não há nada inanimado. 

E todos os dias ainda é contrariado. Derrubou tudo o que nunca se perdeu. Caiu de braços abertos naquela nova rota ao ver que estava levando o que não foi deixado pra trás. Nunca se está perdido na própria solidão, e, toda história é um livro de páginas em branco. Escrita olhando sempre o que ainda está adiante. Quem sabe seja por isso que há pouco tempo pra descansar. E para isso só precisa fugir. Porque já está tudo tão perto que não se percebe mais.

Postais no Teto

Às vezes, procurando o que nunca precisou, passa correndo, ainda sem saber onde quer ir e olha pra trás, achando que se perdeu. As luzes nunca foram apagadas, mas as lâmpadas estão queimadas. Mas se toda escolha é feita por olhos cegos, onde estão os arrependimentos? Seguem adiante. Sempre, e, cada vez mais cegos. Dão de cara com portas fechadas e janelas escancaradas. Porque sempre há uma opção que surpreende a todo momento e faz acreditar ainda mais que muitas palavras são desnecessárias, e, tudo ao redor vai mudar.

Ainda quer ir onde não chegou, só pra ver o que ainda não alcançou. Viveu se questionando. Desistiu. Numa longa caminhada em silencio, não vê mais motivos para não descer de novo. Talvez o mundo não seja mais como era antes, talvez, seja hora de sentir isso. Não sabe como é o mundo fora do seu inconsciente que viveu isolado. 

Ao compasso do descaso corre ao redor dos mapas de uma finita imaginação. A limitação de um metodismo qualquer impõe as barreiras dentro de um visionário que se recusa ver o que há dentro da jaula. O mundo que antes via com certo explendor, agora se perdeu sem a magia que um dia pôde controlar ao deixar se esvair todo o tempo que jamais sentiu passar. Correu para ver quanto tempo ainda lhe resta, se é que vai fazer diferença. Se preocupa tanto com tempo perdido e esquece o que vem ao seu redor. Não para e nem olha o que perdeu, mas nunca teve forças para arrepender-se. Estendeu as mãos, tentou alcançar o que ainda estava longe faltava pouco e esse tão pouco parecia que estava ainda mais distante e já não podia mais ver.

Desistiu de voar além dos próprios pensamentos, testar os limites, crê que é melhor voltar, olhar pra trás, regredir uns meros degraus. Ninguém vai seguir seus passos. Ninguém vai entender o por que. Nunca vão deixar uma porta aberta perto de onde conseguiu entrar.



domingo, 15 de janeiro de 2012

Segredo Inviolável

Destroços de pensamentos alheios ainda ecoam pelo ar perdendo-se no meio das ruínas deixadas pelo vendaval parece que estão perto de se quebrar. Mas seus cacos não desaparecem com as ondas, sempre voltam ainda que remendados. Silêncio aqui e gritos ali. Porque não tem razão ou apenas, não precisamos ver a razão. 

E todos os dias não reconhecemos a multidão de rostos perdidos indo adiante,
querem um dia estar acima dos próprios pensamentos, indo além daquilo que acreditavam poder imaginar. Vamos olhar o horizonte de olhos vendados para  dizer ao mundo que não somos apenas o braço esquerdo, mas que podemos ser o lado direito. Vamos tocar a campainha das casas abandonadas e entrar pelas janelas, sair pelo quintal descendo, do telhado. Queremos estar mais perto do que podemos chegar e seguir além do nevoeiro, indo adiante olhando o ocaso, esperando chegar, enquanto a mesma melodia toca pelo mundo inteiro, uma trilha sonora do momento que não aconteceu. 

Não tem problema quando tudo está pra acabar. Vai mudar em breve, além do horizonte, vai além da imaginação impertinente, ousa passar pelos sonhos desmaiados e é além disso que quer, precisa ir. Se um dia perguntarem se prefire a dúvida, ou a verdade, saiba apenas que é melhor ter a incerteza imprevisível daquilo que menos se espera, que é bom poder ver que nada vai dar certo, ainda assim tenta virar o jogo e no meio do caminho, tudo muda de direção e de novo tudo uma incerteza, como sempre deve ser até chegar ao final, descobrindo tudo, mas não como se deve, nem como não se espera.

Cordões de Luz

Salão de espelhos quebrados, sem as luzes do teto não refletem um hífen perdido entre seus reflexos, diferentes e distantes. O vazio ao redor das imagens ecoa entre universos sem ruídos. Tão surreal e perto, mas tão longe. Tão verdadeiro e distante, cada vez mais próximo. Insensato e banal. Exatamente como imaginamos. Com toda a verdade que queríamos encontrar. Uma cinzenta nuvem dentro da ilusão corroendo os vermelhos campos que eram ali, agora a areia esvai entre os poros e a correnteza deixa os cacos espalhados na cidade do alto dos postes a luz cai... do alto dos sonhos ainda pode ver. E lá na frente o relógio corre pra chegar na hora.
Do mar sobem as estrelas, cegando olhos descobertos. Olhares que se perdem na mesma direção. Cegos. Completamente cegos pela reluzente estrela. Clareia a escuridão do deserto incendiando o lago dentro da floresta esperando o vendaval inconstante que nunca chega sob o olhar brilhante de quem nunca se perdeu em sonhos que entraram em coma numa estrada sem fim. Parece que não vai acabar o eclipse oportuno que une suas paixões incompreensíveis esperando um trovão perdido num dia de sol.

Eis que do limbo ergue-se o sonho utópico, perdido há tanto tempo, incontestável e irreal, agora parece tão simples que nada parece ser real. E quando olha no espelho perde o reflexo, mas enxerga as sombras ou seriam apenas imagens insensatas? O que há dentro daquela imagem que não se pode ver? As sombras continuam espalhadas, as imagens ainda estão perdidas. Nada além do que não se pode ver vai além da imaginação de onde quer chegar. E as sombras que levam o fardo dos destinos um dia imaginados sempre chegam antes e perdem-se dentro de seus reflexos. Então, por que ainda olha para dentro do espelho, quando as luzes mostram as setas para fora de suas mentes?

O Avesso da Certeza

Um único momento em várias distorções da mesma realidade e tudo que passou, ainda parece estar perdido, deixou um rastro de poeira pelas salas, quando ainda parecia estar tudo incerto. Mas ao levantar a cabeça, viu que tudo ficou diferente, não só o lugar, as cores, mas as pessoas que viu, todos deixaram as mascaras para trás e compraram novas ilusões.

Um lugar desconhecido e completamente indiferente. Parece exatamente como era antes, quando apenas um sorriso fazia sentido. Tudo estava quebrado, caindo sob as sombras da estante, deixando de lado o pensamento indeciso na luz que reflete o pó que tenta fugir de um lugar incomum onde nunca se encontra. Vive com a dúvida sobre o que nunca aconteceu. Nesse instante baixou a cabeça tentando recuperar o fôlego. Quanto tempo ainda não passou? As estrelas continuam a cair fugindo dos cometas que desaparecem nas desilusões.

Esperavam ainda que em vão, um dia que nada fizesse sentido em suas mentes, um dia que se perderiam em seus labirintos. O dia que perderam sob os holofotes. O dia que o diamante virou carvão quando caiu dentro do jarro d'água. Aquele estranho dia que a chuva de concreto se estilhaçava em lágrimas de vidro. E ao redor tudo continua desmoronando, escondendo a porta da entrada. Não há saída, não há mais uma pista onde possam ver o sol decolar e se perder na escuridão. Não há mais luta que possam perder.

Em algum lugar onde não vão estar, estarão tão longe... nem ao menos será o meio do caminho. Não vão voltar e nem se encontrarão aqui. Ainda vai levar um tempo e tudo vai ruir... como sempre foi. Onde nunca estiveram, onde se perderam quando se viram, mas sempre evitaram o acaso, até onde puderam...