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segunda-feira, 23 de abril de 2012

Inverno Presente

Deixei me levar pela imaginação até os longinquos moinhos de vento, passei pelas estranhas estátuas da Ilha de Páscoa, vi desertos soterrados tornarem-se florestas tropicais. Vi aquele velho trem percorrer um caminho longo sem trilhos, deixei de plantar os cata-ventos nas memórias do futuro. Vi aquela pilha de livros ironicamente deixados sob a sombras das árvores, esperando que um dia sejam novamente abertos em suas páginas não marcadas.

Quando a noite chegou as pilhas do controle remoto pifaram. Não podia mais fazer nada. Não queria mesmo fazer. Ir além, ir adiante, olhar os lados... por quê? Onde quer que esteja, onde que possa chegar, não vai me satisfazer por completo, mas o que pode completar essa satisfação? O que pode ser ir além? Quero apenas lembrar que posso ser esquecido e deixado de lado, talvez seja um pedido complexo numa sociedade que se preocupa em viver a vida alheia, mas é simples, não é nada demais.

Talvez algum dia lembre de colocar o lixo pra fora na hora certa, talvez com um pouco de sorte até me levante mais cedo sem razão nenhuma e siga todos os caminhos que já ignorei, deixando de lado as escolhas que um dia fiz, pensando apenas em não ser igual, mas segui por um lado inconstante e controverso que foge a minha própria realidade mostrando que toda a indiferença que cultivei não me levou tão distante daquilo que sempre evitei. Talvez por isso, não lembramos sempre do que acontece.




* agradecimentos à Nathalia que me deu esse final do texto. Obrigado!!!

sábado, 7 de abril de 2012

A Imensidão Refaz a Saudade

Hoje contemplo toda a insensatez que deixei debaixo dos carpetes pregados no teto da imaginação vespertina de uma criança. Deixo pra depois a nostalgia que ainda não veio daquele dia que nunca aconteceu. Queria me lembrar do dia de ontem. Não me lembro o que fiz até chegar aqui, ou por onde passei até desmaiar ali.

Aqueles trovões vespertinos inspiraram trovadores e seus cantos. Os galhos que derrubam as folhas cantam sua música enquanto a neve tece seus dilemas sobre o triunfar dos raios de sol atravessando as janelas entre-abertas abandonadas no vilarejo do perdão. Entre os muros da derrota, esconde-se a desilusão inscrita no pergaminho há muito perdido daqueles que um dia deixaram-se levar por seus próprios desastres. Os temores correm por entre as frestas deixando seu rastro para serem encontrados pelos predadores. Eis que a linha temporal escorre pelos ralos no meio da parede deixando a sanidade monumental que fora desprezada.

O som daquele silêncio ensurdecedor que há pouco ouvi me fez voltar alguns passos adiante e olhar para o lado oposto de onde nunca estive enquanto caminhava. As pedras que caíram no céu seguiram adiante, fluindo pela imaginação do arco-íris que voltava do seu encontro com o sol sob a luz do luar. Ainda vejo as páginas marcadas do livro que deixei sobre os arbustos do parque naquele outono sob a escrivaninha de metal envelhecido por passar tanto tempo correndo em um futuro que não há memória.

Distúrbios comoventes ainda circulam pela cozinha do quintal daquele pintassilgo que um dia conheci quando me deixei levar pelo minuano até o espaço, quando perdi o folego ao me levantar em cima da lona daquele circo que nos deixou cair cachoeira abaixo quando a chuva parou e o gelo deixou de se esconder para encontrar por meros segundos, aquele paradoxo incontestavel que o levou para baixo das flores secas de verão.